Bem-vindo

Carlos Cidade eleito Presidente da Concelhia do PS/Coimbra com 69,06% dos votos

segunda-feira, 29 de março de 2010

Quem tem sede?



A abundância relativa do bem água é ilusória. No nosso planeta podemos encontrar dois tipos de água, a doce e a salgada e esta na Terra corresponde a mais de 95%.
No entanto, os poucos menos de 5% de água doce não se encontram totalmente disponível para utilização pelo Homem.
Dizem os entendendidos que apenas 0,3% da totalidade de água doce está à disposição do Homem, com vista à sua utilização.
No futuro imediato é previsível e já acontece que cada vez mais se gastem recursos com o tratamento das águas e se recorra a tecnologias mais dispendiosas, o que implica que no presente tenhamos de reconhecer a existência de um custo marginal de longo prazo muito elevado.
Numa acepção geral, todos os recursos são esgotáveis.
A água é um recurso renovável, cujo ritmo de regeneração depende de factores naturais, exógenos ao Homem, mas também de factores que dependem da gestão de água potável e das águas residuais.
Se tratarmos as águas residuais antes de as devolvermos à natureza, estaremos, de certa forma, a participar no processo de regeneração da água, fazendo com que o processo seja mais célere e que o impacto negativo no ambiente seja menor.
Assim, a abundância ou escassez relativa da água dependerá das dotações iniciais, do ritmo de regeneração e do nível de exploração e consumo, nos seus diversos fins.
Isto é, a água possui um valor próprio quando conservada no seu estado natural, e que se perde sempre que a extraímos da natureza para satisfazer as nossas necessidades.
O aumento da procura de água leva frequentemente a que os produtores esgotem a sua capacidade de extrair água a baixo custo (em poços e fontes naturais, por exemplo) e tenham de recorrer a tecnologias mais dispendiosas como a dessalinização ou ao transporte de zonas bastantes distanciadas, aumentando, desta forma, o custo da água.
Assim, considera-se que a procura da água é crescente, de tal forma que num determinado período de tempo o produtor é obrigado a recorrer a técnicas mais dispendiosas para obter água potável.
Nos últimos tempos os decisores políticos têm apontado no sentido de que os consumidores paguem a totalidade dos custos da água, a que se designa “full cost recovery”, em obediência ao “princípio do utilizador-pagador”.
Mas se há sector onde o termo equidade é relevante é o da Água, que deve ter presente as classes sociais com mais baixos rendimentos que tem que ter acesso à aquisição de água potável e aqui estamos a falar de solidariedade.
Mas também solidariedade entre indústria e população doméstica ou indústria e agricultura, assim como entre as regiões, pelo que deve haver solidariedade entre elas.
Por exemplo nas regiões onde a água é mais escassa, o seu preço tenderá a ser mais elevado, e tratando-se de uma região menos desenvolvida deverá haver solidariedade entre regiões.
Mas o facto é que a água tem de ser acessível a todos.
Estamos assim, perante desafios futuros que se colocam a todos.
Por exemplo no caso de Coimbra temos a sorte de estar integrados na Bacia Hidrográfica do Mondego, que nos permite claramente e através do elemento água, ser um factor de Coesão Regional.
Mas as dificuldades que de forma muito sintetizada, acabo de colocar, não pode levar a que possíveis ou necessários processos de reestruturação em curso relativos à gestão dos vários sistemas, implique que a água, saia da esfera pública.
Não podemos permitir que qualquer processo negocial relativamente ao património municipal, como a empresa municipal Águas de Coimbra, seja desbaratado, perante o facilitismo de alguns e os desejos inconfessáveis de outros.
Coimbra pode-se orgulhar da sua água, e por isso mesmo pode levar a desejos de sede economicista de um património de recursos humanos de grande qualidade, de serviços que prestam, que honram a causa pública, e por isso exigem-se processos de transparência, face às possíveis tentativas declaradas ou não, de colocar em causa o serviço prestado.
Embora reconhecendo que qualquer processo de reestruturação, tem e deve ter por base o principio da solidariedade, não pode pelos tais interesses meramente economicistas, colocar em causa o património da população de Coimbra, e o bem essencial que é de todos nós, a água, determinante para a nossa vida.
É caso para perguntar. Quem tem sede?

Carlos Cidade
Publicado no Diário de Coimbra - 29-03-2010